terça-feira, 16 de setembro de 2008

De como sou aderente.


São seis pernas pra dar firmeza. São seis pés plantados no chão. Nas paredes. No teto. Pra que eu possa ir às alturas. Segura.
Eu adiro aos esportes radicais.
Eu adiro ao Bungee Jump. E eu gosto de ficar de ponta cabeça. Afinal eu tenho minha teia... Afinal estou amarrada pelas pernas por uma corda que agüentaria toneladas. Muitas vezes o meu peso. Então eu pulo de Bungee Jump. Contando que tenha um colchão inflado lá embaixo. Aí eu me jogo. Se jogar é bom. Quando você tem uma teia de segurança e seis patas com intensa aderência.
E eu sou aderente ao rapel. Porque eu gosto de atividades verticais. E eu tenho minha teia. Estou amarrada pelo quadril por uma corda que agüentaria toneladas. Muitas vezes o meu peso. Aí eu faço rapel. Desço rapidão lá de cima. Quase que caindo. Porque eu gosto de alturas. É gostoso cair. Quando você tem uma teia de segurança e seis patas com intensa aderência.

Ana Ferreira

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O VELUDO DA FALA

A – E se o Djavan morresse?
C – Seria lembrado.
B – Não sei. Memória é uma coisa falha.
A – Por quê?
B – Cada pensamento é uma queda de braço.
...
C – Uma queda de braço?
B – Uma queda de braço com um antigo pensamento. Pra ver quem permanece.
...
A – E a aranha?
B – A aranha o quê?
A – E se a aranha morresse?
...
B – Nada.
A – Nada?
B – Nada, nada, nada.
C – Nada, de vazio?
B – Nada, de nada. A aranha morre, e pronto.
...
A – E a pedra?
C – É, e se a pedra morresse?
B – A pedra não nasce nem morre.


“Diz que pedra não fala.
Que dirá se falasse.”
Djavan

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Enfim sós

- Eu sempre quis alguém pra me carregar.
- Toma isso. Coloca na tomada. E quando acender a luz verde você tira da tomada. E pronto. Carregada.
- Mas e a frase?
- Que frase?
- Enfim sós. Eu queria que alguém me carregasse e me dissesse: "Enfim sós".
- Você está carregada, não está?
- Sim, estou.
- Então agora eu tenho que ir embora.
- Mas e a frase?
- Tira do plural.

Uyara Torrente

santa moderna

- E se existisse uma santa moderna?
- Uma santa moderna?
- Sim. Seria mais fácil de atingir a população.
- Sim. Ela seria pop.
- Por quê pop?
- Porque ela teria um monte de fios e cada fio teria uma entrada pra plugar em alguém. Entende? Conexão.
- É isso. Uma santa moderna que oferece conexão através dos fios. E pronto. Tá todo mundo abençoado.
- Só isso? Que rápido! Que prático!
- Mundo moderno, benzinho.

Uyara Torrente

SPIDERMAN! SPIDERMAN!

O que a aranha vê de olho fechado?
As pálpebras.
Mas aranha tem pálpebra?
E o peixe - que não tem pálpebra - pára de olhar em algum momento?

****

A aranha pesca.
Mas não pesca peixe.
Por que?
Porque o peixe tá de olhos abertos.

****

Se a teia é o anzol o que é a isca?
Se a teia é a isca o que é o anzol?
Já imaginou? A aranha com roupinha puída e chapéu de pescador?

****

1- Ok. Já sabemos que a aranha vê uma porção de coisas.
2- Mas o que será que a aranha escuta?
1- Será que ela gosta dos Beatles?
2- Deve gostar. Todo mundo gosta dos Beatles.
1- Ainda mais porque besouros são deliciosamente crocantes.
2- Aranha come besouro?
1- Dependendo do tamanho...
2- Da aranha ou do besouro?
1- Depende...

****

A- Aranha fica doente?
B- Não. Aranha morre e pronto.
A- Será que a aranha pensa esteticamente na teia como eu penso?
B- Vai saber...

A- Aranha tem alma? Vai pros Céus? Acredita em Deus, Jesus, Maria e todos os santos?
B- Não. Aranha morre e pronto.

****

Se a aranha quisesse andar de patins iria pagar tão mais caro por isso...

(cantando)
SPIDERMAN! SPIDERMAN!

A
aranha deve preferir heróis da Marvel.

Eu vou comprar uma camiseta do Homem-Aranha pra usar durante temporada.

E se a aranha cantasse?

"SPIDERMAN! SPIDERMAN!"

A- Será que a aranha gosta de desenho japonês?
B- Não. Só dos heróis da Marvel.
A- Veneno de aranha é ácido, básico ou neutro?
B- A aranha tem o mesmo problema da barata de ficar de barriga pra cima e não conseguir mais voltar?

****



Eu sempre imaginei que a Dona Aranha da música acabasse no inferno...
Mas aranha tem alma?
Não. Aranha morre e pronto.

****

Cansei de existir. Acho que todo mundo deveria brigar por uma existência mais doce.

Cansei de enrolar fios e contar máquinas. Cansei de pensar naquilo que se conecta.

A aranha em rede.
A aranha na rede.
A aranha de férias.
A aranha numa existência mais doce.
A aranha pescando com um pirulito na boca e a alma em paz.
A aranha se chama Owen.

PÁRA DE PROJETAR O SEU IDEAL NA ARANHA.

Nina Rosa Sá

VOCÊS ESTAVAM PENSANDO EM EQUILÍBRIO?

eu ando como a aranha eu sou a aranha andando pelas paredes me assusta eu começo sem as mãos ela parte pra outra aranha brinca como na minha sombra engulo o fluxo refluxo

o fio que não se conecta ao fio que se conecta à rede.

****

Se a direção do movimento é sempre em relação ao tronco, qual é a direção do meu movimento quando o meu tronco fica se movendo? Pra onde apontam meus pés? Frente? Direita? Frente? Esquerda?

Aquilo que se balança eu balanço e parece olhar pra mim.

Brincando com equilíbrio. O mosquito está preso à teia.

O cowboy solitário com sua corda. O fio. Que prende. Que laça. Laça o outro objeto. Laça o outro-objeto. Que se conecta. Entra em rede. WEB. Teia. Eu sou a teia.

Toda ação provoca uma reação igual e contrária.

Eu meço a rede. Teoria do esforço repetitivo. Cabo de guerra.

O que eu laço quando eu laço o outro que me laça enquanto eu laço o espaço?

****

Muitos fios tendem a produzir uma teia maior. Mas essa teia (emaranhado de fios) se faz e desfaz. Expande e retrai. É uma teia de fios em rede. Alguns conectados. Outros não. Acesso discado. Via cabo. ADSL. Essa rede é esticada. A coroa de Cristo. Como espinhos. Os fios se modelam em qualquer coisa. Viram rede. Cenário. Figurino. Ligação entre os atuantes. Cabo de guerra. Fio de guerra. Fio de paz. Descanse em paz. Faz e desfaz.

Qualquer desenho se torna possível.
Porque talvez só nós enxerguemos teia.
Talvez no emaranhado de idéias (fios) só nós sejamos capazes de enxergar.

Como tonar o que nos é sensível visível?
Como se dialoga de igual pra igual com o outro? Sem hierarquias.
Como eu torno possível a beleza em um emaranhado de fios (idéias)?

O que se desfaz é aquilo que já foi feito. O que está aqui agora? O feito ou o desfeito? Mas com que efeito?

A Teoria Funcionalista só se preocupa com o efeito da mensagem.
Mas o meio não é a mensagem?
Então a mensagem é o teatro em si.

A mensagem é cada fio da teia. Feita ou desfeita. Desta feita será assim:

Eu direi coisas e você ouvirá. Depois eu ficarei quieta e você dirá coisas. Nós nos entenderemos e cada mensagem será bem sucedida. O teatro será bem sucedido. Nada ficará malacabado. As palavras começam a faltar. Precisamos nos comunicar por pensamento. Me ouça. Me ouça sem que eu diga coisa alguma.

Nina Rosa Sá

domingo, 7 de setembro de 2008

Não cabe como rima de um poema

Coça, coça, coça porque não consigo parar de coçar? Perai um espiro ... Não ainda não é o momento. Você vai ter que esperar... Ninguém na linha tu tu tu
- Não, isso quer dizer que caiu.
- Mas me equilibrei o máximo que pude.
- Pois é, não foi o suficiente.
- Suficiente realmente não foi. Mas pelo menos eu gostei.
- Que bom. Eu não
- É uma pena
- É. E você não vale a pena
- Pena que faz cosquinha no nariz?
- Acho que chegou o momento.
- Não pularei mas de precipícios.
- Dizem que são ócios do oficio.
- Mas se eu pular de precipícios não terei ossos pra contar historia.

Eu só queria fazer uma cena bonita. Equilibrando-me em tamancas de gelo. Mas não sou muito equilibrada.
- Então é desequilibrada?
- Não

Emanuelle Sotoski

Advérbio interrogativo

Por que eu não tenho a elegância de uma aranha?
Por que eu não tenho pernas altas?
Por que eu não sou clássica? (tipo bailarina)
Por que me sinto pequena e estranha?
Por que não piso em linhas?
Na verdade não saio delas.
Acho que sou uma presa .
FÁCIL.
Vou andado calmamente para o meu fim.
Ele está próximo.
- Sim, no máximo uns 70 anos de vida.
- E depois nada?
- Nada, nada , nada.
- Nada de vazio?
- Não entendi. Tem virgula?
- Não sei nunca fui boa em português.
Eu realmente tinha idéias brilhantes mas o português sempre me atrapalhava. O seu Manuel.
Por que a teia?
Não sei é só um fio que se liga a outro , em outro , em outro.
Por que há sempre uma musica?
Por que não sou delicada? ( em todos os sentidos)
Por que me sinto suja?
- Não sei, pode ter sido algo que você fez.
- É eu passei a mão muitas vezes no chão.
E lá é pra botar o pé.

Emanuelle Sotoski

Na hora do intervalo

Tenho e ser sincera nada me passa pela cabeça . Será que todos os meus pensamentos em pequenos instantes foram sugados pelo mundo ? Instantes – Estantes.
De livro. Aquelas das bibliotecas com todo conhecimento do mundo.
- O mundo todo cabe ali?
- Cabe sim. Ele cabe até em uma foto daquelas medias.
- Hum .... Tipo aqueles livros “Tudo sobre Einstein em 90 minutos”.
- É mas isso não acontece naquela propaganda que um cara levou não sei quanto tempo pra cozinhar tal prato.
- Não. Mas nem tudo bate.
- Carros eu sei que batem. Meu namorado quase morreu esmagado por um caminhão. Ta eu sei que em tudo isso há um pouco de exagero.
Cazuza – o tempo não para- por isso vou escrevendo.
- Você lembra daquela propagada que falava sobre isso ? Eu gostava.
Mas nada disso ta fazendo sentido.
Quando v c ri muito fica assim meio boba.
Agora só o que me vem na cabeça uma enorme boca sorrindo. Com dentes branquinhos . Como num comercial de margarina.
E como todo filme feliz minha historia acaba aqui.
FIM.

Emanuelle Sotoski

sábado, 6 de setembro de 2008

"Eu sou uma pedra"

"Eu sou uma pedra", ela disse com os olhos. Os meus olhos que ela havia perdido. Eu também não reclamei por ela tê-los encontrado, todos eles inteiros. E agora usá-los como cartaz. Cartaz que diz, que insiste, que grita: "eu sou uma pedra". Ela parecia mesmo uma pedra. Durante todo aquele tempo. Todo aquele tempo impossível de se medir. Poderia ter sido apenas uma tarde chuvosa ou todo o verão. Eu permaneci escalando a vidraça que continuou me encarando.

Tirei fotos pra manter na memória. Memória é uma coisa falha. Cada novo pensamento é uma queda de braço. Uma queda de braço com um antigo pensamento. Para ver quem permanece.

As luzes piscam e a música continua.

Cada novo pensamento expulsa um antigo. Ou não consegue se fixar. A teia fica em cima. Pra cima. O teto é o chão. Cada hora um novo pensamento me acomete. Sem espaço na memória RAM.

Alô! O celular tocou e o pensamento último escapou. Não conseguiu nem jogar uma queda de braço. Não pôde brigar por espaço. Espaço na minha cabeça que dói.

As bases foram alteradas. Eu só queria pisar o teto. Encarar o chão. E desconsiderar as paredes todas. Como se o teto se sustentasse sozinho. E. E eu pudesse ser chão.

Nina Rosa Sá

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