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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Processo criativo de Espaço Outro

Para relembrar, posto aqui o artigo sobre o processo de criação da peça Espaço Outro, da ACRUEL, publicado na Revista Questão de Crítica (para ver, acesse aqui). 


Espaço Outro - Por Ana Ferreira
Espaço Outro é uma peça de gabinete, processo estranho à maioria dos criadores contemporâneos. A observação do espaço urbano, mais especificamente do centro da cidade, intercalou algumas fases da criação. Os ensaios tomaram pouquíssimo tempo. Foi à base de café que eu, Emanuelle Sotoski e Rubia Romani construímos esta obra.

O primeiro café deste processo foi tomado no Café Fingen, ao lado do Teatro Guaíra de Curitiba, onde o grupo Couve-Flor fazia Infiltrações. Tratava-se de uma intervenção na qual o público recebia por escrito um roteiro de ações executadas pelos artistas em qualquer lugar visível a partir das cadeiras do Café, do balcão à Praça Santos Andrade. Um homem procurava emprego em um jornal do outro lado da rua enquanto uma mulher vestida de verde e com os cabelos molhados pedia sorvete de pistache no balcão; e nós sabíamos antecipadamente que tudo isso aconteceria por causa daquele objeto vidente que havia nos sido entregue. O café trivial tornou-se mágico, todo o ambiente real tomou proporções ficcionais: as pessoas atravessando a faixa de pedestres com o intenso movimento das seis e meia era uma linda coreografia de balé. Junto comigo, estava a Manu, também integrante da ACRUEL.
Na mesma semana tivemos uma reunião sobre os próximos passos da companhia e eu falei sobre o quanto Infiltrações havia mexido comigo, o quanto eu passei a acreditar na necessidade deste tipo de arte. Qual necessidade? Qual tipo de arte? São perguntas que precisávamos nos fazer antes de apenas reproduzir a intervenção do Couve-Flor. Partimos para dois meses de discussão regada de O Teatro é necessário? e Carta aberta, ambos de Denis Guénoun, e As heterotopias de Michel Foucault. Havia questões nestes textos que nos eram centrais. No primeiro, Guénoun discute a falta de público nas peças teatrais em paralelo ao excesso de pessoas nos cursos de teatro. Para o autor, o indivíduo contemporâneo só pode se sentir parte de uma obra, estar representado nela, se ele realmente atuar na mesma. O grande golpe do teatro em nossa época só poderia ser tornar o público ativo. Carta aberta é um texto sobre, para, e, principalmente, pelo teatro. Um novo, não mais feito para poucos. Uma possibilidade nova de paixão para outros apaixonados da sociedade. Guénoun é contra o desejo comum aos artistas da adequação do povo ao pensamento artístico contemporâneo. Para o autor, a população não deve correr para alcançar a arte, o artista é que deve sair do seu meio restrito de convivência e endereçar sua obra à população. “Você quer os fanáticos por futebol, é preciso ir ao estádio sentir subir o grito quando a jogada é bonita. Deixe o teu quarto, tua vida interior. É preciso levá-la para dançar. Faze-la valsar” (1).
E o público do futebol realmente nos interessava, talvez não de forma objetiva. Desejávamos combinar a identificação individual com a catarse coletiva, característica extremamente forte nos enormes estádios (claro que a estrutura que podíamos oferecer tinha menores proporções), e através disso atrair outros tipos de espectadores, aqueles mais ativos. O “ano novo” nos pareceu uma metáfora perfeita para esta combinação, pois nele estamos decididos a agir em nossas vidas e por isso estabelecemos representações/identificações do que somos e queremos. Ao mesmo tempo, comemoramos a concepção destas idéias em conjunto com outras pessoas, compartilhando um sentimento de renovação. Esta festividade tornou-se uma referência para o ambiente que queríamos criar, e trouxe consigo um tema: iniciativa para a satisfação própria. O objetivo da nossa obra passou a ser buscar esta situação e sentimento, esta era sua necessidade.
Foucault entra nesta história para responder a segunda pergunta, aquela sobre o tipo de arte. O autor nos ajudou a orientar nossa estratégia de ação. Ele acredita que a história das sociedades contemporâneas é contada pelo espaço e pelas relações que surgem dele ou com ele. Os “outros espaços” ou “espaços outros”, são os mais interessantes ao estudioso, pois tem valores simbólicos que falam fortemente sobre a cultura dos povos. Dentre estes, os mais importantes são as “heterotopias”, lugares reais e concretos que assumem significados de outros lugares, formando assim um contra-espaço. Há diversas expressões desta classificação. O teatro, em si, já é uma heterotopia por natureza, pois cria um espaço ilusório que representa outros reais. Entre seus exemplos, Foucault menciona um que nos encantou muito:
“Devemos ter em conta que, no Oriente, o jardim era uma impressionante criação de tradições milenares, e que assumia significados profundos e sobrepostos. Na tradição persa, o jardim era um espaço sagrado que reiterava nos seus quatro cantos os quatro cantos do mundo, com um espaço supra-sagrado no centro, um umbigo do mundo (ocupado pela fonte de água). Toda a vegetação deveria encontrar-se ali reunida, formando como que um microcosmo. (…) O jardim é a mais pequena parcela do mundo e é também a totalidade do mundo; tem sido uma espécie de heterotopia feliz e universalizante desde os princípios da antiguidade.” (2)
Este foi um dos momentos em que demos uma pausa nos nossos cafés e fomos para a rua observar. Fizemos alguns exercícios dentre os quais o mais produtivo foi criar histórias improvisadas sobre as pessoas que passavam nas ruas. Nesta experiência, encontramos nas praças públicas nosso Jardim Persa, um espaço real com potência para simbolizar todo o movimento urbano. Isto porque este lugar combina ociosidade com intensa transitoriedade, o que lhe possibilita ter frações das mais diversas atividades da cidade.
A forma desejada para nossa obra possuía fortes inspirações em Infiltrações, mas aqui ambas se separaram. O trabalho do Couve-Flor objetivava intensificar o olhar do público sobre a rua e por isso o grupo mudava seu roteiro a cada cidade, criando novas estratégias de acordo com suas rotinas. Mas nós desejávamos implantar um jardim, uma representação geral do todo artificialmente fixada naquele espaço. Nós queríamos, mais do que intervir, fazer uma peça de teatro.
Fechamos nossa estrutura espacial: uma grande caixa transparente no centro da praça pública que seria nosso artefato mágico, aquele que possibilita entrar em um ‘espaço outro’ sem sair deste espaço real da praça. Chegamos, então, ao momento de construir o roteiro e, para isso, fizemos nossos cafezinhos e retornamos ao nosso gabinete. Voltamos-nos ao objetivo de causar a reflexão sobre o que somos e o que queremos e, a partir dela, uma comoção compartilhada. Fizemos-nos inúmeras perguntas sobre ações e escolhas na vida, muito bem traduzidas pela crítica Luciana Romagnolli como Quando a gente é feliz?. E dentro deste tema que envolve fortemente as tomadas de decisões, organizamos a estrutura da dramaturgia com o que chamamos de “estratégia do re”. Refazer, reciclar, re-significar, regressão. Baseando-nos nas observações e exercícios nas praças, listamos ações com forte caráter de iniciativa no sentido de uma satisfação pessoal. Com elas criamos um roteiro base. Este deu origem a outros cinco, todos com as mesmas ações, mas variando em atitudes e maneiras de se relacionar com as situações. Cada um dos cinco possui uma forma dominante de relacionamento, e é representado por uma cor. Deixamos a critério do público se cada roteiro é uma outra forma de ver algo que aconteceu (re-significar), possibilidade de agir na mesma ocasião (refazer) ou uma continuação de uma mesma história onde há uma nova chance aproveitada de outra maneira (reciclar). Apenas um ‘re’ dominamos exclusivamente: a regressão. As ações começam longe da caixa e a cada novo roteiro vão se aproximando, contagem regressiva para o momento em que chegam ao público e devolvem a ele a responsabilidade de agir e escolher em suas próprias vidas, de se movimentar no espaço real.
Voltamos para a praça e testamos todo o roteiro. A penúltima fase foi a escrita do texto que é narrado em off na grande caixa, orientando o olhar do público sobre as cenas que se passam espalhadas pelo espaço urbano. A linguagem dramatúrgica de cada um dos cinco roteiros foi pensada para corresponder às suas cores (formas de relação). Para os dois primeiros, cada uma das criadoras escreveu solitariamente um texto, depois nos reunimos e montamos um “Frankenstein” com partes do corpo de todos. Os três últimos foram pensados em conjunto, algo que consideramos importante devido à gradação da abstração que acontece no decorrer da contagem regressiva.
Partimos para a última e menos complexa parte do processo criativo: gravar e produzir o áudio e ensaiar com os atores. Diferente da maioria das peças, esta parte foi mais fácil porque Espaço Outro não exige uma interpretação sofisticada por parte dos atores. O que há de mais importante nesta obra é a sincronia do que está sendo narrado com o que acontece no espaço real.
Focamo-nos, durante todo o processo, em transformar o estudo teórico em resultado concreto – na medida em que se pode ser concreto ao fazer arte. Acredito que, em decorrência desta preocupação, tivemos retornos do público bastante significativos. Finalizamos recentemente a primeira temporada, que se deu em Curitiba. Agora, esperamos poder fazer esta experiência com públicos de outras cidades.
Notas:
(1)Tradução e adaptação de Fernando Kinas. Não publicado.
(2)Conferência proferida por Michel Foucault no Cercle d’Études Architecturales, em 14 de Março de 1967. Texto traduzido por Pedro Moura. Disponível em: http://www.virose.pt/vector/periferia/foucault_pt.html .
Site da ACRUEL: http://www.acruel.com.br/

quinta-feira, 12 de julho de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O teatro é necessário - mas não é para todos

O teatro é necessário - mas não é para todos
Por Ana Ferreira. 


A necessidade não é algo tão objetivo quanto a palavra pretende insinuar. Para sobreviver temos a necessidade de oxigênio, comida e uma temperatura terrestre mediana. Mas a necessidade de sobreviver existe? A que se deve uma existência? Do ponto de vista da natureza, apenas para servir a continuidade do ciclo de existências. Daquele pessoal, à felicidade. Por essa dificílima empreitada, a felicidade, grande parte da humanidade tem brigado há décadas acreditando que doces sonhos são feitos de lágrimas de outros. Uma outra parte, bastante restrita, essa que se envolve com o pensar artístico e é, por isso, privilegiada, sente-se culpada por essa vantagem e passa então a pensar que deve consertar o mundo. Grotowski, em uma palestra no Rio de Janeiro em 1974, já teria dito que ninguém pode mudar a própria vida em busca da felicidade sem que mude a dos outros. Mas também alertou sobre o perigo de se querer transformar o mundo e a impossibilidade de, mesmo em círculos pequenos, modificar a vida como um todo através da arte. “Através da cultura, é verdade, pode-se falar a propósito das modificações do mundo. Através da criação pode-se falar como mudar a vida, as estruturas, a civilização, como tornar o mundo melhor. Mas ‘falar a respeito’ não modifica nada. Lamento”, disse o teatrólogo. Fato é, que o seres humanos encontram a felicidade através de diferentes meios, alguns da religião, outros no contato com os fenômenos naturais, outros na relação com o outro. São formas de entrar em contato com uma essência da vida. Denis Guénoun nos deu a pista sobre de que se trata o teatro: libertar a própria existência para convidar o próximo a libertar a sua. O teatro nos é apresentado então como uma das tentativas de felicidade, como uma forma de tentar o contato com o outro encontrar-se.
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Para Grotowski, a única forma de se relacionar profundamente com outro ser humano é através da verdade. Este é o problema geral da arte: quer-se evitar o ato verdadeiro, substituí-lo por sua imitação perfeita. Mesmo no teatro chamado “de participação” tudo se apresenta banal, a espontaneidade instintiva a que se propõe é extremamente falsa. Foi essa a consciência que começou a surgir em meados do século passado e nos trouxe à exposição do jogo, ato pretendido pelo teatro contemporâneo. Na cena, toda presença é concreta, o ator expõe essa condição e faz dela um instrumento para estabelecer uma relação de sinceridade com o espectador que permita a fruição da ação poética. O representado não é mais a verdade do texto, a verdade do texto teatral é desnudamente poética: a ficção não deve ser servida pelo ator, mas o ator deve, se for o caso, induzir ficções. Se muitas narrativas ainda roçam no imaginário das personagens, não o obedecem mais.
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"Trata-se então de elaborar uma verdade física. Os métodos variam: procura de uma autocolocação de uma interioridade (que, diante do olhar, deve ser conquistada), ou, ao contrário, trabalho da exposição pela exposição, buscando sua eclosão como ostentação no âmbito da verdade. O horizonte é sempre o de uma precisão: do deslocamento, do gesto, do olho, da própria imobilidade. E esta exigência não é representativa, mas apresentativa" (GUÉNOUN, p. 133).
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Portanto a motivação do teatro é a do jogo entre a poesia e a existência. Trata-se de uma arte necessária na medida em que é um meio de busca pela verdade da vida através do contato real com o outro possibilitado pela poética. “O teatro é o jogo deste existir que oferece ao olhar o lançar de um poema. Só o teatro faz isto: só ele lança o poema para diante de nossos olhos, e só ele lança e entrega a integridade de uma existência” (GUÉNOUN, p. 147).
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A questão é que, desde que o teatro decidiu por sua independência do imaginário, perdeu considerável número de público. Denis Guénoun defende que ele se deslocou para as aulas de interpretação, tentativa de se aproximar de uma arte da qual sente distância. Os tantos espectadores potenciais do jogo exposto estariam esperando do ator, que ali liberta sua existência, um convite para em dado momento fazerem o mesmo, para ser parte da ação dramática. Talvez seja essa sua necessidade. Buscar essa troca é, talvez, uma forma de estabelecer uma comunicação mais profunda com aqueles que ali estão e, ainda, de atrair mais pessoas ao teatro. Afinal, querer se agrupar, ser componente de um conjunto, é uma tendência natural da humanidade. Busca-se na ação do outro uma inspiração ou justificativa para a própria. Por mais que soe massacrante, é libertador. Quanto maior a comoção, mais catártico.
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Invoco novamente Grotowski para lembrar que não devemos nos enganar. O que queremos é apenas ser feliz e uma ação teatral verdadeira não garante nada disso. Ela é um meio de tentar, mas não o fim em si. Porém acredito que sua necessidade está exatamente em propor esse caminho. Querer que mais pessoas se integrem, querer espalhar esse bem para o mundo é válido na medida em que novos grupos se unem para tentar um contato com o outro, mais gente tem acesso a essa via de auto-encontro. Está aí a importância de procurar esse espaço que convide o espectador a libertar a própria existência. Mas querer que o teatro tome para si a responsabilidade de ser um remédio para os males da humanidade é querer fazer dele mais uma enganação, mais um produto fácil da cultura de massa que alimente a insaciedade e o vazio do espírito. Se, em alguns séculos passados, o teatro já foi tão popular quanto hoje é o cinema, é porque muitos buscavam nele o puro entretenimento, hoje existente em variedade rápida e fácil. Nem todos estão dispostos a pagar o preço da procura pela felicidade. O teatro, ao menos o teatro de exposição, nunca pertencerá a todos. Porque o teatro não é fácil, como ser feliz também não.

Texto de 2009. 



Bibliografia:
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Guénoun, Denis. O Teatro é Necessário?. São Paulo: Perspectiva, 2004.
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Palestra proferida por Grotowski em 8 de julho de 1974, no Teatro Nacional de Comédia, Rio de Janeiro. Tradução e transcrição: Yan Michalski. Não publicada.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O novo projeto

Para quem ainda não estava acompanhando, o que é o novo projeto da ACRUEL:

“É uma vez e para sempre” gira em torno das versões originais dos contos de fadas, que nasceram voltados aos adultos, com temas que focam exacerbadamente o desejo e a crueldade humana e que apresentam o prazer em suas diversas faces.

A ACRUEL pretende montar esta peça em uma casa, onde o público vivenciaria a atmosfera fantástica e agressiva das versões antigas dos contos de fadas. A cada novo cômodo no qual o espectador é convidado a entrar, acontece uma imersão em um outro mundo, dado pela ambientação cenográfica e pela composição de luz.

Estamos em fase da criação do texto. Hoje, mais especificamente, estamos escrevendo a quinta cena da peça.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Exercício de escrita

Trecho inicial de exercício de escrita, parte do processo criativo de É Uma Vez e Para Sempre, novo projeto da ACRUEL.

LOBO: Nós começamos pela presença nula da avó. Permissiva ou fraca, é insignificante.Sua falta de energia é pressuposto desta cena. É importante que reservemos à avó os direitos autorais da corrupção familiar, herança de séculos de tradição. Registremos, portanto, sua presença vaporosa. Eu me apresento, o pólo positivo. O macho não contido pela convenção social do respeito, da atenção ao outro. O Lobo sem matilha.
Somos dois em cena, mas não há ação dramática. Há, sim, uma ambientação. Sentado à mesa de jantar na qual a avó está servida aos pedaços, aguardo a caça que feita vítima de sua baixa maturidade adquiriu desejável impressão de força negativa. Neste cenário, inicia um encontro de resultado certo. Desenvolvo-o aqui apenas pelo movimento, prazer que divido com vocês e com a criança.
LOBO: Neta, chegou bem na hora em que eu assumo o papel de avó. Vou tratar de você. Senta e nutra-se. (Ela senta e começa a comer a carne satisfatoriamente).(...)

domingo, 13 de junho de 2010

Artigo é publicado sobre o processo de criação de Espaço Outro

Um artigo sobre o processo de criação da peça Espaço Outro da ACRUEL Companhia foi publicado na revista eletrônica Questão de Crítica. O texto, escrito pela integrante Ana Ferreira, relata de forma informal a pesquisa feita. Está disponível em http://www.questaodecritica.com.br/2010/06/espaco-outro/ .

Segue o mesmo abaixo:

Espaço Outro

Artigo sobre o processo de criação da peça Espaço Outro, da Cia ACRUEL, de Curitiba

Foto: Rosano Mauro Jr

Espaço Outro é uma peça de gabinete, processo estranho à maioria dos criadores contemporâneos. A observação do espaço urbano, mais especificamente do centro da cidade, intercalou algumas fases da criação. Os ensaios tomaram pouquíssimo tempo. Foi à base de café que eu, Emanuelle Sotoski e Rubia Romani construímos esta obra.
O primeiro café deste processo foi tomado no Café Fingen, ao lado do Teatro Guaíra de Curitiba, onde o grupo Couve-Flor fazia Infiltrações. Tratava-se de uma intervenção na qual o público recebia por escrito um roteiro de ações executadas pelos artistas em qualquer lugar visível a partir das cadeiras do Café, do balcão à Praça Santos Andrade. Um homem procurava emprego em um jornal do outro lado da rua enquanto uma mulher vestida de verde e com os cabelos molhados pedia sorvete de pistache no balcão; e nós sabíamos antecipadamente que tudo isso aconteceria por causa daquele objeto vidente que havia nos sido entregue. O café trivial tornou-se mágico, todo o ambiente real tomou proporções ficcionais: as pessoas atravessando a faixa de pedestres com o intenso movimento das seis e meia era uma linda coreografia de balé. Junto comigo, estava a Manu, também integrante da ACRUEL.
Na mesma semana tivemos uma reunião sobre os próximos passos da companhia e eu falei sobre o quanto Infiltrações havia mexido comigo, o quanto eu passei a acreditar na necessidade deste tipo de arte. Qual necessidade? Qual tipo de arte? São perguntas que precisávamos nos fazer antes de apenas reproduzir a intervenção do Couve-Flor. Partimos para dois meses de discussão regada de O Teatro é necessário? e Carta aberta, ambos de Denis Guénoun, e As heterotopias de Michel Foucault. Havia questões nestes textos que nos eram centrais. No primeiro, Guénoun discute a falta de público nas peças teatrais em paralelo ao excesso de pessoas nos cursos de teatro. Para o autor, o indivíduo contemporâneo só pode se sentir parte de uma obra, estar representado nela, se ele realmente atuar na mesma. O grande golpe do teatro em nossa época só poderia ser tornar o público ativo. Carta aberta é um texto sobre, para, e, principalmente, pelo teatro. Um novo, não mais feito para poucos. Uma possibilidade nova de paixão para outros apaixonados da sociedade. Guénoun é contra o desejo comum aos artistas da adequação do povo ao pensamento artístico contemporâneo. Para o autor, a população não deve correr para alcançar a arte, o artista é que deve sair do seu meio restrito de convivência e endereçar sua obra à população. “Você quer os fanáticos por futebol, é preciso ir ao estádio sentir subir o grito quando a jogada é bonita. Deixe o teu quarto, tua vida interior. É preciso levá-la para dançar. Faze-la valsar” (1).
E o público do futebol realmente nos interessava, talvez não de forma objetiva. Desejávamos combinar a identificação individual com a catarse coletiva, característica extremamente forte nos enormes estádios (claro que a estrutura que podíamos oferecer tinha menores proporções), e através disso atrair outros tipos de espectadores, aqueles mais ativos. O “ano novo” nos pareceu uma metáfora perfeita para esta combinação, pois nele estamos decididos a agir em nossas vidas e por isso estabelecemos representações/identificações do que somos e queremos. Ao mesmo tempo, comemoramos a concepção destas idéias em conjunto com outras pessoas, compartilhando um sentimento de renovação. Esta festividade tornou-se uma referência para o ambiente que queríamos criar, e trouxe consigo um tema: iniciativa para a satisfação própria. O objetivo da nossa obra passou a ser buscar esta situação e sentimento, esta era sua necessidade.
Foucault entra nesta história para responder a segunda pergunta, aquela sobre o tipo de arte. O autor nos ajudou a orientar nossa estratégia de ação. Ele acredita que a história das sociedades contemporâneas é contada pelo espaço e pelas relações que surgem dele ou com ele. Os “outros espaços” ou “espaços outros”, são os mais interessantes ao estudioso, pois tem valores simbólicos que falam fortemente sobre a cultura dos povos. Dentre estes, os mais importantes são as “heterotopias”, lugares reais e concretos que assumem significados de outros lugares, formando assim um contra-espaço. Há diversas expressões desta classificação. O teatro, em si, já é uma heterotopia por natureza, pois cria um espaço ilusório que representa outros reais. Entre seus exemplos, Foucault menciona um que nos encantou muito:
“Devemos ter em conta que, no Oriente, o jardim era uma impressionante criação de tradições milenares, e que assumia significados profundos e sobrepostos. Na tradição persa, o jardim era um espaço sagrado que reiterava nos seus quatro cantos os quatro cantos do mundo, com um espaço supra-sagrado no centro, um umbigo do mundo (ocupado pela fonte de água). Toda a vegetação deveria encontrar-se ali reunida, formando como que um microcosmo. (…) O jardim é a mais pequena parcela do mundo e é também a totalidade do mundo; tem sido uma espécie de heterotopia feliz e universalizante desde os princípios da antiguidade.” (2)


Foto: Rosano Mauo Jr

Este foi um dos momentos em que demos uma pausa nos nossos cafés e fomos para a rua observar. Fizemos alguns exercícios dentre os quais o mais produtivo foi criar histórias improvisadas sobre as pessoas que passavam nas ruas. Nesta experiência, encontramos nas praças públicas nosso Jardim Persa, um espaço real com potência para simbolizar todo o movimento urbano. Isto porque este lugar combina ociosidade com intensa transitoriedade, o que lhe possibilita ter frações das mais diversas atividades da cidade.
A forma desejada para nossa obra possuía fortes inspirações em Infiltrações, mas aqui ambas se separaram. O trabalho do Couve-Flor objetivava intensificar o olhar do público sobre a rua e por isso o grupo mudava seu roteiro a cada cidade, criando novas estratégias de acordo com suas rotinas. Mas nós desejávamos implantar um jardim, uma representação geral do todo artificialmente fixada naquele espaço. Nós queríamos, mais do que intervir, fazer uma peça de teatro.
Fechamos nossa estrutura espacial: uma grande caixa transparente no centro da praça pública que seria nosso artefato mágico, aquele que possibilita entrar em um ‘espaço outro’ sem sair deste espaço real da praça. Chegamos, então, ao momento de construir o roteiro e, para isso, fizemos nossos cafezinhos e retornamos ao nosso gabinete. Voltamos-nos ao objetivo de causar a reflexão sobre o que somos e o que queremos e, a partir dela, uma comoção compartilhada. Fizemos-nos inúmeras perguntas sobre ações e escolhas na vida, muito bem traduzidas pela crítica Luciana Romagnolli como Quando a gente é feliz?. E dentro deste tema que envolve fortemente as tomadas de decisões, organizamos a estrutura da dramaturgia com o que chamamos de “estratégia do re”. Refazer, reciclar, re-significar, regressão. Baseando-nos nas observações e exercícios nas praças, listamos ações com forte caráter de iniciativa no sentido de uma satisfação pessoal. Com elas criamos um roteiro base. Este deu origem a outros cinco, todos com as mesmas ações, mas variando em atitudes e maneiras de se relacionar com as situações. Cada um dos cinco possui uma forma dominante de relacionamento, e é representado por uma cor. Deixamos a critério do público se cada roteiro é uma outra forma de ver algo que aconteceu (re-significar), possibilidade de agir na mesma ocasião (refazer) ou uma continuação de uma mesma história onde há uma nova chance aproveitada de outra maneira (reciclar). Apenas um ‘re’ dominamos exclusivamente: a regressão. As ações começam longe da caixa e a cada novo roteiro vão se aproximando, contagem regressiva para o momento em que chegam ao público e devolvem a ele a responsabilidade de agir e escolher em suas próprias vidas, de se movimentar no espaço real.
Voltamos para a praça e testamos todo o roteiro. A penúltima fase foi a escrita do texto que é narrado em off na grande caixa, orientando o olhar do público sobre as cenas que se passam espalhadas pelo espaço urbano. A linguagem dramatúrgica de cada um dos cinco roteiros foi pensada para corresponder às suas cores (formas de relação). Para os dois primeiros, cada uma das criadoras escreveu solitariamente um texto, depois nos reunimos e montamos um “Frankenstein” com partes do corpo de todos. Os três últimos foram pensados em conjunto, algo que consideramos importante devido à gradação da abstração que acontece no decorrer da contagem regressiva.
Partimos para a última e menos complexa parte do processo criativo: gravar e produzir o áudio e ensaiar com os atores. Diferente da maioria das peças, esta parte foi mais fácil porque Espaço Outro não exige uma interpretação sofisticada por parte dos atores. O que há de mais importante nesta obra é a sincronia do que está sendo narrado com o que acontece no espaço real.
Focamo-nos, durante todo o processo, em transformar o estudo teórico em resultado concreto – na medida em que se pode ser concreto ao fazer arte. Acredito que, em decorrência desta preocupação, tivemos retornos do público bastante significativos. Finalizamos recentemente a primeira temporada, que se deu em Curitiba. Agora, esperamos poder fazer esta experiência com públicos de outras cidades.
Notas:
(1)Tradução e adaptação de Fernando Kinas. Não publicado.
(2)Conferência proferida por Michel Foucault no Cercle d’Études Architecturales, em 14 de Março de 1967. Texto traduzido por Pedro Moura. Disponível em: http://www.virose.pt/vector/periferia/foucault_pt.html .
Site da Cia ACRUEL: http://www.acruel.com.br/


Foto: Rosano Mauro Jr

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fim da temporada de Espaço Outro em Curitiba e estamos vendo as possibilidades de levá-lo para outras cidades. Mas independente disso, retomamos o processo criativo do nosso próximo projeto: É Uma Vez e Para Sempre. O texto será escrito por mim e pela Manu, que também atuaremos, e a direção fica a cargo de Márcio Mattana.

Na discussão pré-início de criação textual, voltamo-nos aos nossos objetivos: mostrar o ser humano quando ele age apenas pelo que deseja, ignorando uma moral e o zêlo ao outro. Nosso material para isso são as versões originais dos contos de fadas, que eram repletas de crueldade e de ações que seriam perturbadoras para as pessoas de hoje. Queremos revelar ao público a realidade cruel nestes contos que vai contra ao apego inocente que temos por ele e, como isso, que as pessoas se deparem com algo que foi formador de seus valores chocando-se contra eles.

A idéia para a encenação é ultilizar a linguagem do Pop para intensificar a perturbação. O Pop, sendo a estética do desejo na sociedade contemporânea, teria a função de causar atração nos espectadores por estas ações consideradas, hoje, perverção. Estabelece-se assim a contradição psicológica e a discussão sobre o que é a natureza humana.

Eu e a Manu estamos aproveitando muito os estudos feito no Núcleo de Dramaturgia SESI para discutir a linguagem do nosso texto. Na próxima semana, nos concentraremos em rever algumas referências e discuti-las. Ainda vai um tempo para começarmos a botar a mão na massa.

A peça ainda não tem previsão para estréia, isso dependerá de alguns resultados de editais que estamos esperando.

domingo, 30 de maio de 2010

Vídeo de Espaço Outro

Nesta cena de Espaço Outro, há uma música no interior da caixa. Mas para quem assiste a peça de fora, tudo está em silêncio, exatamente assim:

terça-feira, 25 de maio de 2010

Última semana

Começou a última semana de Espaço Outro.
Hoje tivemos uma linda tarde de Sol. Esperamos que continue assim para podermos aproveitar toda a semana.
Só restam quatro apresentações...
Aproveite!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

No Twitter

Retorno do público no Twitter:

tiagoathayde: @acruelcompanhia poucas vezes me senti tão vivo na rui barbosa...paro e reparo que ao ver tmb sou visto, então decido se atuo ou se assisto

Allanlpereira: @acruelcompanhia pessoal, muito bom o trabalho e o projeto Espaço Outro. Parabéns!


fusaoderua: Já que é pra "sugestar": Eu quero @acruelcompanhia no @FITRioPreto2010

fertaka: Sábado foi dia de Espaço Outro, da @acruelcompanhia. Parabéns pela proposta, principalmente em Curitiba. Diversos olhares...

gustavo_stella: "É a partir daqui." Tô com isso na cabeça desde que vi "ESPAÇO OUTRO" da @acruelcompanhia

cabruera: @acruelcompanhia, assisti hoje a peça. fez ganhar meu dia cinza.   

eusouumcarrinho: @acruelcompanhia pegou o espirito de Eu Tambem Quero Um Carrinho de Mercado ;)

Agradecemos a todos o carinho. Estamos imensamente felizes com conseguirmos afetar as pessoas.

Siga a ACRUEL no twitter e acompanhe você tbm: @acruelcompanhia

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Espaço Outro na Praça Rui Barbosa

Começa "Espaço Outro" na Praça Rui Barbosa.
De terça à sábado às 16h30.
Até o dia 29.
Entrada Franca.

Comentário no Blog da Gazeta do Povo

A jornalista Luciana Romagnolli fala sobre suas impressões da peça Espaço Outro no Blog Palco da Gazeta do Povo:

Quando a gente é feliz?

O texto crítico sobre a peça Espaço Outro deixo para os próximos dias, no jornal impresso. Agora, vou falar livremente um pouco de como o espetáculo me afetou. Afinal, para isso ainda vou ao teatro: ser afetada.
Numa contextualização rápida, entrei numa grande caixa transparente, de onde se avista a praça. Um narrador em off diz para onde devemos olhar e comenta as cenas que os atores protagonizam ao longe. Dos próprios atores não ouvimos (quase) nada. Suas ações são variadas. Há o rapaz que passa sob a chuva e outro sob o sol, os casais que se unem, separam e reconciliam. Todos, pequenos recortes descolados de um suposto contexto.
Pois bem. Depois que saí do polígono de acrílico a caminho do shopping Mueller, vi do outro lado da rua um rapaz se exaltar diante do guarda de trânsito. Na verdade, só o que eu vi foram os dois homens, um com a postura ereta, outro abrindo os braços enfaticamente uns 30 graus. Não ouvi o diálogo entre eles, não faço ideia do contexto, mas presenciei esse instantâneo daquelas duas vidas e disso posso imaginar ou concluir qualquer coisa. Como na peça. Fiquei pensando no tanto de gente desconhecida com quem "convivo" todo dia, no nada que sei sobre como vivem os outros.
A praça é por natureza esse lugar de encontros e desencontros. Mas não foram as despedidas nem as aproximações que me deixaram impactada desde que pisei fora da caixinha (de acrílico). Serei mais precisa: desde o momento em que avistei o elenco vestido de amarelo vibrante a dançar em plena Santos Andrade uma coreografia celebrativa do êxtase da paixão de um casal, tudo o que pude pensar foi: Quando a gente é feliz?
Sem ceticismo
Já no fim da peça, atores e atrizes ingressaram no nosso espaço de acrílico para escrever do lado de dentro das paredes translúcidas frases soltas, ao estilo "quero ser mãe", "ler um bom livro, preferencialmente tomando café" ou "uma boa noite de sono, sonho e sexo". A meu ver, respondem o que eu intimamente havia me perguntado uns momentos antes, durante a cena musical.
Relembrando as ações que mais repetidamente vimos de dentro da caixa, as respostas do grupo à questão são afetivas. Quantos pedidos de casamento eles encenam? Eu não contabilizei. Mas, basicamente, aquelas cenas dizem que feliz a gente é quando ama. Depois briga. Mas foi feliz. Acreditar nisso é um voto contra o ceticismo. Como também fazer uma cena de musical em plena praça ou insistir nessas referências a pedidos de casamento são votos contra o ceticismo. Contra sua insegurança arrasadora de que o amor é insuficiente e a felicidade, ilusão dos ignorantes.
O teatro é uma escolha contra o ceticismo. Dos atores, ao construir uma caixa de acrílico em pleno centro de Curitiba, para ficar no exemplo mais próximo. Do público, ao topar entrar na caixa, ao obeceder aos comandos da voz em off, ao se deixar afetar pelo que um outro grupo humano lhe propõe.

http://www.gazetadopovo.com.br/blog/palco/?id=1004290

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Matéria sobre Espaço Outro no Jornal da UFPR

Uma caixa de acrílico no meio da praça

Peça Espaço Outro transforma conceitos de plateia, placo e personagens
Reportagem Cássia Marocki, Luiza Barreto e Juliana Blume, especial para o Comunicação On-line
Edição Carolina Goetten
Juliana Blume
Juliana Blume: Odeio quando meu cadarço desamarra. Odeio mais que tudo nessa vida. Mas foi o desamarrar desse dispositivo de segurança que interrompeu a nossa caminhada apressada para a Rui Barbosa e nos permitiu olhar melhor o que estava acontecendo à nossa volta. Alguém por ali chamou atenção para uma estrutura parecida com uma estufa: “Que escultura é aquela?”. Olhei para o lado e já gritei uma resposta: “são atores dentro da caixa! Vai ver eles tão olhando a gente olhando pra eles! Vai ver é uma jaula de zoológico humano!”
Cássia Marocki: Era perto das cinco da tarde e a praça Santos Andrade estava movimentada, embora não mais do que o normal, quando vi duas pessoas inteiramente vestidas de vermelho: um homem que empurrava uma mulher dentro de um carrinho de supermercado. Assim que passamos por eles, olhei em volta tentando descobrir se eles faziam parte de alguma peça de teatro. Mas, por mais que procurasse, não conseguia localizar a plateia. Nossa curiosidade jornalística nos fez parar para procurar alguém que soubesse explicar aquela maluquice, ao mesmo tempo em que mais pessoas vestidas de uma só cor apareciam por todos os lados.
Luiza Barreto: Duas garotas saíram ocorrendo de cantos opostos e se abraçaram efusivamente em frente a um homem sentado em um banco da praça Santos Andrade. As duas, em vermelho, pareciam felizes. Seria coincidência? Quando fomos averiguar do que se tratava, olhei por trás da coluna do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná e vi que os mesmos que antes trajavam vermelho estavam, agora, vestidos de azul. "COMO?!", eu pensei - bem assim, em caps lock. Passado o susto, descobri que começava o espetáculo Espaço Outro no meio da praça.
A Santos Andrade é o palco
Na peça Espaço Outro, a estrutura de acrílico é a plateia e o palco não tem limites: engloba toda a praça, por onde os atores circulam. Árvores, fontes, estátuas e colunas são parte do cenário e, ao mesmo tempo, coxias, atrás das quais os atores se trocam. De vermelho para azul, de azul para amarelo e de amarelo para roxo, as cores das roupas vão mudando conforme a trama da peça se desenrola.
Da caixa, parte a narração da história dos personagens e a transmissão dos diálogos, por meio de caixas de som. Uma imensa rosa-dos-ventos pintada no chão ajuda a direcionar o lado a que olhar, e quem vê passa por alguns segundos de procura, tentando identificar, entre as pessoas que passam pela praça, quem é ator e quem não é. O público observa e ouve fragmentos de vida das personagens como se fosse onisciente. Emanuelle Sotoski, uma das criadoras, explica que a caixa funciona como um narrador - traçando-se uma comparação com palcos tradicionais, seria como um compartimento distante a que o espectador não tem acesso. “Ao mesmo tempo é uma vitrine: quem está dentro vê e está também sendo observado por quem passa na rua”.
A ideia foi formulada pelo grupo de teatro aCruel e surgiu do questionamento do porquê de o público ser tão afastado do teatro. Diante de um temor aparente com relação aos palcos e pelo fato de que as pessoas não vão às salas de teatro, o teatro vai até as elas. O diferencial dessa peça não é apenas o local em que se passa, mas a própria dinâmica da apresentação. O teatro não é na praça, é sobre ela; a Santos Andrade é a personagem principal.
O objetivo da mudança de ambiente é fazer com que as pessoas olhem para a cidade de outro jeito, segundo a assistente da companhia, Daiane Rafaela Domingues. Ao passar de manhã pela Santos Andrade, o estudante Lucas Capra, que mora perto da praça, viu uma equipe montando a caixa e voltou à tarde para ver a peça. “A proposta do palco negativo é muito interessante”, afirma o estudante. O espetáculo traduz com precisão o sentimento de olhar e ser olhado, observar e ser observado, e faz lembrar que cada pessoa na multidão é um ser ímpar, com dilemas próprios, alegrias, tristezas e particularidades.

Fonte: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/8158#comment-1672

Duas chances

ATENÇÃO: Restam apenas duas apresentações de Espaço Outro na Praça Santos Andrade. Ambas são neste sábado (15), a primeira às 15h30 e a segunda às 16h30.

Na semana que vem, a peça estará na Praça Rui Barbosa.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Apresentação extra no sábado

Confirmado: apresentação extra de Espaço Outro neste sábado às 15h30 na Praça Santos Andrade.
Em seguida, acontecerá a apresentação já programada das 16h30.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Matéria no Curitiba Cultura

Espaço Outro estréia na Pça. Santos Andrade

Estréia hoje, às 16h30 na Praça Santos Andrade, a peça “Espaço Outro”, da Cia. ACRUEL. Quem passar por lá até o dia 15/05, de terça a domingo, terá a oportunidade de vivenciar um espaço de suspensão do cotidiano, a onisciência dos acontecimentos, sentimento contrastante com aquele que não se aventurar em entrar na caixa acrílica permeada por ficção e realidade. A experiência é gratuita, e poderá ser conferida também na Praça Rui Barbosa, de 18 a 29/05, mesmos dias e horário.
O contraste acontece porque é dentro da caixa que está o espaço outro. Somente inserido no limitado contexto que o expectador terá acesso a informações fundamentais para o entendimento completo do espetáculo. Enquanto isso, ao redor, o dia-a-dia continua em seu fluxo constante, observando e sendo observado, mas sem a valiosa chave que encadeia os acontecimentos. Há uma infiltração de ambos os eixos (ficcional e real), o que provoca um ruído na mensagem: é sempre do expectador o trabalho de definição do significado.
Instigar, despertar o papel de investigador do público, são algumas das intenções da Cia. ACRUEL. Criada por Ana Ferreira, Emanuelle Sotoski e Rubia Romani, “Espaço Outro” problematiza a relação entre público e peça, fazendo o movimento inverso, ou seja, invadindo a platéia. O teatro vai estar na rua, e a rua também é o teatro. O choque acontecerá, caso esteja presente na data, horário e locais certos. Basta aceitar o desafio e contemplar a vida passando diante dos olhos, assim como no teatro.

http://www.curitibacultura.com.br/noticias/espaco-outro-estreia-na-pca-santos-andrade


Fotos de Rosano Mauro Jr.

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