segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre como este Espaço é Outro


Espaço Outro é uma peça de teatro de estrutura peculiar, realizada pela ACRUEL Companhia em praças públicas de grande movimento. O público é convidado a entrar em uma grande caixa de acrílico transparente onde uma narração em off orienta o olhar. As cenas acontecem fora, espalhadas pela praça. Algumas são pequenas e infiltradas entre as pessoas comuns, outras intervêm no movimento natural do lugar. Assim, enquanto os espectadores da caixa têm uma orientação objetiva (só eles sabem tudo o que está acontecendo) e subjetiva sobre as ações, os passantes têm uma percepção espontânea das mesmas. Estes últimos observam, ainda, a grande caixa de acrílico com indivíduos encerrados, que acaba por se transformar em uma obra das artes visuais. Desta forma, todo público que observa, é também observado por outro.
Mesmo que existam muitas formas de se relacionar com a peça, Espaço Outro privilegia o público da caixa. A maior característica do trabalho é dar a estas pessoas o poder de Onisciência. A narração lhes permite saber mais sobre o presente, e até um pouco sobre o passado e futuro, do que as pessoas que vêem de fora. A caixa é um ponto de observação do espaço público e das histórias que ele conta, porém o caráter fictício transforma seu significado. Este jogo entre realidade e representação teatral permite novas visões sobre este ambiente, mais atentas e sensíveis. Mas, como todo jogo, trata-se de um desafio. O espectador deve ir descobrindo a melhor forma de lidar com a narração.
O espaço, neste projeto, é o veículo de sua principal discussão: as diversas possibilidades de se interpretar e agir dentro de uma mesma situação. A dramaturgia da peça é dividida em cinco partes nas quais o mesmo roteiro de ações se repete. Cada uma delas é representada por uma cor no figurino que expressa alterações de emoção, atitude e conseqüência. A linguagem textual acompanha estas modificações. As ações começam distanciadas e a aproximam-se da caixa gradualmente no decorrer da peça. Ao final, o público é sutilmente convidado a pensar em como vai se relacionar com o território e o tempo que lhe é dado a partir dali, agora que volta a atividade no “Espaço Lá Fora”, a vida real.
A motivação deste projeto é um contato mais íntimo entre o artista e os cidadãos. Para isso, realizamos uma infiltração no espaço público, na qual a exibição artística se mescla à vivência cotidiana. A rua como espaço artístico, por si só, já é democrática, mas no caso deste projeto, esta característica é ainda mais forte. A linguagem contemporânea desta obra importa-se em ser atraente à apreciação da platéia, seja ela qual for. O diferencial de “Espaço Outro” é levar ao espaço público um trabalho artístico contemporâneo com uma composição constituída por diferentes camadas as quais cada espectador, de acordo com suas referências de vida e a arte, pode aproveitar a sua maneira. As histórias, a instalação da caixa, as intervenções na rua, as estéticas de cada uma das cinco partes, a brincadeira de onisciência, permitem às pessoas se interessem por diferentes possibilidades de relação com esta obra. 

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